Coletiva de Imprensa – A Mulher Invisível (Entrevista Selton Melo)
Com 28 anos de carreira, Selton Mello é um dos atores mais importantes da sua geração. Estreou na TV em 1981 e, desde então, já participou de dezenas de novelas e minisséries, além de peças teatrais. No cinema, possui no currículo mais de 20 longas-metragens. Entre eles estão os campeões de bilheteria “Meu Nome Não é Johnny” (de Mauro Lima, 2008, mais de 2,4 milhões de espectadores) e “Lisbela e o Prisioneiro” (de Guel Arraes, 2003, mais de 3,1 milhões de espectadores), além de “O Cheiro do Ralo” (de Heitor Dhalia, de 2005), “Árido Movie” (de Lírio Ferreira, 2004), “Lavoura Arcaica” (de Luiz Fernando Carvalho, 2001) e “O Auto da Compadecida” (de Guel Arraes, 2000), pelos quais recebeu prêmios em festivais nacionais e internacionais.
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Como diretor, estreou em 2008 seu primeiro longa-metragem: “Feliz Natal”. Também dirige e apresenta o programa “Tarja Preta”, do Canal Brasil.

- Como surgiu o convite para trabalhar em “A Mulher Invisível”? E o que te motivou a fazer o filme?
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Já havia trabalhado com o Claudio Torres no episódio “Lira Paulistana” da série “Brava Gente”, da Rede Globo. Sou fã dele. Adoro o filme “Redentor”, que ele dirigiu. Um dia o Claudio me contou que queria fazer um filme para contar a história de um personagem que, num momento de depressão, cria uma mulher que não existe. Na hora imaginei que essa premissa junto com o talento do Claudio ia dar em coisa boa e falei: “Estou dentro!”. O filme nem tinha roteiro e eu já disse que queria fazer.
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- Descreva o Pedro, seu personagem.
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O Pedro é um cara comum, com um emprego comum e com sentimentos comuns que toma um pé na bunda e enlouquece. E é um enlouquecimento comum de quem toma um pé na bunda. Eu gostei disso. Fiquei atraído pela possibilidade de interpretar um cara comum.
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- Como foi o processo de construção do “Pedro”? O que você buscou salientar na personalidade dele?
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Eu já sabia quem era o Pedro. Eu conheço a solidão. A diferença é que nunca inventei uma mulher pra viver comigo (risos). Nós ensaiamos, fizemos umas leituras, mas foi muito simples porque já sabíamos o filme que íamos fazer.
Confiávamos na maneira como o Claudio queria contar a história. Então, fomos lá e jogamos o jogo.
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- Como foi contracenar com você mesmo, ou melhor, nas cenas em que a Luana estava presente, mas você precisava tentar ignorá-la ou atuar como se ela não estivesse ao seu lado?
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Foi esquizofrênico e bem divertido. Imagina o que é para um ator representar um personagem assim. É uma oportunidade e tanto! Você filma a cena com a atriz e depois você faz sozinho, dando o tempo para as respostas dela. Isso é muito louco e, portanto, muito bom.
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- Qual foi o principal desafio durante as filmagens?
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Foi difícil fazer a cena em que eu danço na boate, com e sem a Luana, porque tinha uma platéia enorme. Era uma boate lotada, e as pessoas ficavam me olhando, beijando o ar e dançando com o nada. Por outro lado, foi um belo termômetro, porque eu e Claudio Torres sacamos na hora, pela reação dos figurantes, que aquilo estava funcionando, estava divertido. Foi uma delícia.
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- Como foi trabalhar com Claudio Torres em “A Mulher Invisível”? Você vê alguma vantagem no fato de o diretor do filme ter sido também o roteirista? Isso abre novas possibilidades para criações durante as filmagens?
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O Claudio é muito generoso na lida com os atores e com a equipe. E foi um trabalho em que tudo correu muito bem, sem grandes percalços. A liberdade que ele dava era grande, mas o roteiro já era muito redondo e não precisávamos ficar inventando muita coisa no set. Mas, nas cenas de sofrimento do Pedro, eu pedi ao Claudio pra ir bem fundo. Uma delas é a sequência em que o Pedro começa a gritar e escrever a história da mulher invisível. Foi uma cena catártica, e o Claudio deixou que eu fizesse dessa forma. Nos momentos de aprofundar, a gente aprofundava. Nos momentos de fazer galhofa, a gente ia com tudo, sabendo dosar. O Claudio tinha uma consciência muito grande do que estava fazendo. Ele tem uma elegância na maneira de filmar. Foi um trabalho que adorei fazer, torço por ele e quero que ele seja visto. É um filme que vai agradar a várias faixas etárias.
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- E o trabalho com os demais atores, como Luana, Vladimir e Maria Manoella?
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A Luana é super estudiosa e a gente se deu super bem fazendo o filme juntos. E era louco porque eu fazia cena com ela e sem ela. E a Luana ficava com um pouco de ciúmes quando eu contracenava sozinho. Ela dizia: “Ah! Fica muito melhor comigo” (risos). A Maria Manoella é uma amiga de muito tempo, mas foi a primeira vez que trabalhamos juntos e foi ótimo. Talvez a Vitória seja o personagem mais difícil do filme e ela faz super bem aquela menina tímida e delicada. Também nunca tinha trabalhado com o Vladimir Brichta. Ele é um sujeito fabuloso. Virou um amigo. No set é um palhaço, com um astral sempre muito bom. Adorei trabalhar com ele, quero repetir essa parceria. No filme parece mesmo que a gente tem uma amizade de muitos anos. Isso acontece quando se tem um elenco que não compete entre si, mas que se admira e quer ver o outro bem. Essa era a onda que esse quarteto principal tinha.
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- Como era o clima no set?
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Foi um set muito divertido. Juntou um grupo muito bom. Eu, a Luana, a Manu e o Vlad nos demos super bem. Essa alegria e a vontade de estar fazendo o trabalho estão no filme. Nem sempre isso acontece. Às vezes você faz um trabalho que o set é uma maravilha e vira um filme ruim. E às vezes você faz um filme que o set é uma desgraça e vira um belo filme. Nem sempre você consegue ser feliz nas duas coisas: estar num set agradável, estar feliz trabalhando e ter um bom filme. Poucas vezes consegui isso na minha vida e uma delas foi em “A Mulher Invisível”.
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- Como as participações especiais contribuíram para o filme?
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Ter a Maria Luisa Mendonça no elenco foi um luxo. Já trabalhei com ela algumas vezes. Ela deu uma grandiosidade à perda que o Pedro sofre logo no início do filme. Paulo Betti é sujeito muito divertido, um amigo e foi ótimo telo como chefe. Lucio Mauro, eu amo. Já o dirigi no meu primeiro longametragem, “Feliz Natal”. Fernanda Torres é uma figuraça, uma parceira de muito tempo. Ela estava grávida durante as filmagens, com uma barriga gigante. Achei até muito corajoso da parte do Claudio e dela. O filho podia nascer a qualquer momento no set. Mas a Nanda é guerreira. Grávida, fazia o filme, uma peça, escrevia programa. Foi uma maravilha ter o talento dela perto da gente. Marcelo Adnet é um craque do humor. Entre a filmagem e o lançamento, ele virou um ídolo. E a cena que fazemos juntos ficou ótima.
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- Pode-se dizer que a comédia seja o seu gênero preferido?
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Eu me sinto muito à vontade fazendo comédia. Tenho feito nos últimos anos muitos personagens engraçados e se você tem uma boa história é melhor ainda. E era o caso aqui. Tinha um belo personagem na mão. Fazer uma coisa divertida e ter uma história consistente pra contar é ainda melhor.
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- Após o sucesso de diversas comédias, você acredita que esse gênero esteja em alta com o público? Isso pode ser positivo para o filme?
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Comédia desde os primórdios agrada ao grande público porque, provavelmente, desde os primórdios até os dias de hoje, a vida é dura e difícil. Então, acho que você tem que rir senão você pode enlouquecer e acabar inventando uma mulher imaginária, por exemplo. O riso é uma coisa catártica e, por isso, existe o sucesso dos filmes de comédia. As pessoas querem esquecer por um momento os problemas do cotidiano. E nisso vem “A Mulher invisível”. De uma forma lírica, cumprindo esse papel. É divertido e tocante porque as pessoas se identificam com tudo aquilo ali.
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- O que o público pode esperar de “A Mulher Invisível”?
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É uma comédia, um filme simples, divertido, mas muito comovente também. Se você for pensar de um outro ponto de vista é até uma história triste. Um cara que num momento de solidão inventa alguém pra tornar a vida melhor. Isso é muito triste. Essa combinação é uma coisa positiva. Isso coloca o filme em outro patamar. Não é apenas uma comédia, mas uma comédia que emociona que fala de amizade, de temas profundos que a gente vive. É um ponto a mais nesse filme.
Por Luciana Rodrigues
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