Diretor de "Besouro" diz ter pensado em criar um "super-herói"

A intenção evidente de ''Besouro'' é ser um filme de ação centrado na capoeira, e portanto marcadamente brasileiro, com boas chances de agradar o público interno e sobretudo de tornar-se um competente produto de exportação. O longa-metragem teve, de fato, um desempenho bastante razoável nas bilheterias e sai em DVD numa edição caprichada, com muitos extras sobre o projeto e a realização.

''Besouro'' marca a estreia em cinema de João Daniel Tikhomiroff, diretor com longa e consagrada carreira na publicidade. O personagem do título foi um capoeirista lendário que viveu na região do Recôncavo baiano e ficou famoso por suas habilidades de lutador. Na época a capoeira era ilegal e sua prática significava resistência da cultura negra e desafio à exploração pelos brancos.

Tikhomiroff diz, num dos extras, ter preferido a lenda de Besouro às informações históricas. Cita como exemplo o apelido do capoeirista: era tão ágil e arisco que parecia ''sair voando'' como um besouro. O diretor viu nisso a possibilidade de ''uma espécie de super-herói''. Vai daí que o Besouro do filme, por meio de efeitos visuais, é realmente capaz de voar, suspenso por aqueles cabos tornados invisíveis que fizeram a fama de filmes já antigos como ''Matrix'' e ''O Tigre e o Dragão''.

Para coordenar as cenas de luta, foi trazido para as filmagens um especialista do cinema de Hong Kong, o coreógrafo Ku Huen Chiu. O capoeirista vai virando ninja. Num dos extras do DVD, a preparadora de elenco Fátima Toledo diz que a capoeira foi seu ''maior problema'', porque, trocando em miúdos, ensina a introspecção e o cinema precisa de ação e emoções manifestas. A declaração é bem reveladora da desconfiança dos realizadores do filme em relação a seu próprio assunto. A capoeira, parece, não é boa o suficiente, e por isso é melhor recorrer a outros ''ingredientes''. A metáfora culinária, aliás, é evocada pelo assistente de efeitos visuais, que manifesta nos extras a esperança de conseguir ''dar um temperinho de capoeira'' ao filme.

A condução do enredo é igualmente ressabiada. Besouro descreve o típico ''arco do herói''. Nasce com um dom excepcional, que desenvolve com a ajuda de um mestre, comete um grande erro por arrogância, retira-se para a expiação, ganha força e volta para desempenhar uma função pelo bem coletivo contra um inimigo comum (um coronel dono de engenho). Mas o filme parece não acreditar muito no próprio herói, que, defendido por um ator pouco expressivo (Ailton Carmo), some da tela durante longos períodos da história.

''Besouro'' não é, contudo, um aborrecimento. Se o protagonista deixa a desejar como ator, seu desempenho na capoeira é espetacular, assim como de outros integrantes do elenco. O filme tem vários momentos desfrutáveis, além de um desejo genuíno de encantar o espectador, e não poupa esforços para isso.

Via UOL
Foto: Divulgação
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