Mesmo com avanços tecnológicos, cinema em 3D causa desconforto
Os filmes em 3D, que aposentaram os óculos de cartolina por modelos sofisticados, ainda tem gente que sente desconforto na sala de cinema, como dor de cabeça ou vista cansada.
"O cinema em 3D não é prejudicial à saúde", avisa logo a neuro-oftalmologista Dérica Camargo Serra, que, ainda assim, sofreu com as legendas de "Avatar", novo filme de James Cameron, e ouviu a mãe de 59 anos queixando-se de "muita dor no olho". "Mas ela adorou."
A Folha On Line convidou Dérica e o oftalmologista José Álvaro Pereira Gomes para ver um filme em 3D e explicar o incômodo visual. Esse é um dos principais problemas que os cineastas enfrentam na hora de rodar um filme do tipo, que, por sua vez, tem ingresso mais caro e fez subir em 50% o parque exibidor digital do país desde junho.
"Nos preocupamos porque muitas pessoas ficam incomodadas com o 3D forçado demais [cenas que saltam da tela], realmente força o sistema ótico", diz Ariel Wollinger Martins, estereógrafo da TeleImage, cargo responsável pelos cálculos de profundidade para as câmeras que estão rodando o 3D nacional "Brasil Animado".
Apesar dos avanços tecnológicos, o princípio básico do cinema em três dimensões é o mesmo de décadas atrás: a projeção simultânea de duas imagens borradas num mesmo plano. Os óculos fazem com que cada olho veja uma das imagens, gravadas por duas câmeras, que se fundem numa única no sistema ótico.
Os médicos explicam que, para ter a noção de profundidade, os olhos usam um mecanismo de movimentação conjunta e de autofoco, composto por um sistema de lente e músculo que se contrai ou relaxa ao olhar de longe ou de perto.
"Para ter uma noção em 3D, o olho está acostumado a enxergar volume no espaço [em vários planos], e não imagens desfocadas num mesmo plano [tela]. É uma situação artificial, que de certa forma engana o olho", diz o médico José Álvaro, que foi ao cinema com a mulher, propensa a ter enxaquecas, e ninguém reclamou.
Para Dérica, quem enxerga "100% nos dois olhos vai fazer a fusão das imagens tranquilamente" no cinema. "Mas pode ter um desconforto se tiver que mudar muitas vezes o olho de posição ou focar várias vezes. Isso pode gerar um cansaço muscular", pondera. Ela também cita o fato de os óculos serem padronizados e a distância das pupilas variar entre as pessoas. "Dependendo da posição que eu punha os óculos, a legenda ficava focada ou não. E ele é pesado, machuca o nariz."
"Avatar" e os críticos
Na saída de uma sessão de "Avatar", a Folha conversou com alguns estudantes, todos fascinados pelo filme, que retrata uma floresta mágica habitada por seres azuis. "Dá um incômodo, vontade de tirar [os óculos]", disse Wagner Nunes, 22, que reclamou mais de "Coraline e o Mundo Secreto" (2009) e "A Lenda de Beowulf" (2007).
De fato, até críticos mais ferrenhos do 3D, que defendem que a técnica não deve atropelar a história, se encantaram com "Avatar", cujo diretor criou novas câmeras para fazê-lo. "Ele nunca usa o 3D de forma promíscua", escreveu o crítico americano Roger Ebert, que chegou a desejar a morte do 3D num artigo de 2008.
Para os médicos, o principal problema será quando o 3D chegar à TV --empresas já anunciam para 2010 transmissões do tipo. "A noção de profundidade se desenvolve até os sete anos. E ninguém sabe o efeito disso numa criança se o estímulo for de várias horas por dia", diz José Álvaro.
Corrigindo excessos
A principal diferença do 3D de hoje para o dos anos 80 é o uso de câmeras digitais e softwares capazes de corrigir alinhamentos de imagens e excessos de efeitos, em filmes de animação ou com atores.
"O diretor pode identificar uma cena de profundidade difícil de se ver, que dá fadiga ocular e refazê-la. Isso não era possível há 20 anos", disse David Hoffman, pesquisador no programa de Ciência Visual da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Ainda assim, ele pondera, os estúdios não sabem qual é a quantidade confortável de efeitos do tipo para usar num filme.
As salas de cinema e os óculos também evoluíram, mas isso não vale se o cinema não tem know-how para exibir 3D. "Fui ver "Avatar" e a imagem estava esticada demais, fui até reclamar", disse Ariel W. Martins, da TeleImage.
Dicas
- Prefira sentar sempre no meio da sala, nas poltronas da metade para cima
- Cansou? Tire os óculos, feche os olhos e depois pisque algumas vezes
- Olhar para a tela sem os óculos cansa ainda mais
- Pessoas mais propensas a sentir cansaço visual estão com o grau desatualizado nos óculos normais ou com alguma deficiência ocular; na dúvida, consulte um médico
Postagem: Sávio Benevides
Via Folha On Line
Foto: Divulgação
"O cinema em 3D não é prejudicial à saúde", avisa logo a neuro-oftalmologista Dérica Camargo Serra, que, ainda assim, sofreu com as legendas de "Avatar", novo filme de James Cameron, e ouviu a mãe de 59 anos queixando-se de "muita dor no olho". "Mas ela adorou."
A Folha On Line convidou Dérica e o oftalmologista José Álvaro Pereira Gomes para ver um filme em 3D e explicar o incômodo visual. Esse é um dos principais problemas que os cineastas enfrentam na hora de rodar um filme do tipo, que, por sua vez, tem ingresso mais caro e fez subir em 50% o parque exibidor digital do país desde junho.
"Nos preocupamos porque muitas pessoas ficam incomodadas com o 3D forçado demais [cenas que saltam da tela], realmente força o sistema ótico", diz Ariel Wollinger Martins, estereógrafo da TeleImage, cargo responsável pelos cálculos de profundidade para as câmeras que estão rodando o 3D nacional "Brasil Animado".
Apesar dos avanços tecnológicos, o princípio básico do cinema em três dimensões é o mesmo de décadas atrás: a projeção simultânea de duas imagens borradas num mesmo plano. Os óculos fazem com que cada olho veja uma das imagens, gravadas por duas câmeras, que se fundem numa única no sistema ótico.
Os médicos explicam que, para ter a noção de profundidade, os olhos usam um mecanismo de movimentação conjunta e de autofoco, composto por um sistema de lente e músculo que se contrai ou relaxa ao olhar de longe ou de perto.
"Para ter uma noção em 3D, o olho está acostumado a enxergar volume no espaço [em vários planos], e não imagens desfocadas num mesmo plano [tela]. É uma situação artificial, que de certa forma engana o olho", diz o médico José Álvaro, que foi ao cinema com a mulher, propensa a ter enxaquecas, e ninguém reclamou.
Para Dérica, quem enxerga "100% nos dois olhos vai fazer a fusão das imagens tranquilamente" no cinema. "Mas pode ter um desconforto se tiver que mudar muitas vezes o olho de posição ou focar várias vezes. Isso pode gerar um cansaço muscular", pondera. Ela também cita o fato de os óculos serem padronizados e a distância das pupilas variar entre as pessoas. "Dependendo da posição que eu punha os óculos, a legenda ficava focada ou não. E ele é pesado, machuca o nariz."
"Avatar" e os críticos
Na saída de uma sessão de "Avatar", a Folha conversou com alguns estudantes, todos fascinados pelo filme, que retrata uma floresta mágica habitada por seres azuis. "Dá um incômodo, vontade de tirar [os óculos]", disse Wagner Nunes, 22, que reclamou mais de "Coraline e o Mundo Secreto" (2009) e "A Lenda de Beowulf" (2007).
De fato, até críticos mais ferrenhos do 3D, que defendem que a técnica não deve atropelar a história, se encantaram com "Avatar", cujo diretor criou novas câmeras para fazê-lo. "Ele nunca usa o 3D de forma promíscua", escreveu o crítico americano Roger Ebert, que chegou a desejar a morte do 3D num artigo de 2008.
Para os médicos, o principal problema será quando o 3D chegar à TV --empresas já anunciam para 2010 transmissões do tipo. "A noção de profundidade se desenvolve até os sete anos. E ninguém sabe o efeito disso numa criança se o estímulo for de várias horas por dia", diz José Álvaro.
Corrigindo excessos
A principal diferença do 3D de hoje para o dos anos 80 é o uso de câmeras digitais e softwares capazes de corrigir alinhamentos de imagens e excessos de efeitos, em filmes de animação ou com atores.
"O diretor pode identificar uma cena de profundidade difícil de se ver, que dá fadiga ocular e refazê-la. Isso não era possível há 20 anos", disse David Hoffman, pesquisador no programa de Ciência Visual da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Ainda assim, ele pondera, os estúdios não sabem qual é a quantidade confortável de efeitos do tipo para usar num filme.
As salas de cinema e os óculos também evoluíram, mas isso não vale se o cinema não tem know-how para exibir 3D. "Fui ver "Avatar" e a imagem estava esticada demais, fui até reclamar", disse Ariel W. Martins, da TeleImage.
Dicas
- Prefira sentar sempre no meio da sala, nas poltronas da metade para cima
- Cansou? Tire os óculos, feche os olhos e depois pisque algumas vezes
- Olhar para a tela sem os óculos cansa ainda mais
- Pessoas mais propensas a sentir cansaço visual estão com o grau desatualizado nos óculos normais ou com alguma deficiência ocular; na dúvida, consulte um médico
Postagem: Sávio Benevides
Via Folha On Line
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